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quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Homem Tocha


Email enviado dez dias após sair da Santa Casa, uma semana antes do meu casamento, adiado em função do acidente.

Oi galera, aqui quem tecla sou eu...o original "Homem Tocha". Muito obrigado pelas orações de todos. Valeu mesmo! Só vou dar um conselho: Nunca utilizem álcool ou qualquer líquido inflamável em churrasqueira ou fogão a lenha. Existem acendedores sólidos apropriados, que parecem pedacinhos de sabão ou, como solução caseira, óleo de soja e um pouco de papel. Agora, a versão oficial de quem estava perto do fato, ou melhor, em chamas...Era um churrasco de despedida de solteiro, dia 12 de outubro (feriado) com alguns irmãos. Eu estava agachado ao lado esquedo da churrasqueira, colocando papel laminado dentro de um isopor. A carne seria preparada e guardada dentro do isopor enquanto faríamos um período de ministração: Palavra, oração, cânticos etc, depois todos comeríamos juntos. Dez minutos após já terem acendido a churrasqueira ela apagou. Então, iriam fazer o mesmo processo denovo para acendê-la. O álcool foi despejado e quando alcançou o fundo...surpresa! havia brasas. Pegou fogo e estava subindo rápido para alcançar a garrafa e explodí-la. Naturalmente, quem estava segurando a garrafa, jogou-a rapidamente no chão. Eu faria a mesma coisa! A garrafa estava sendo segura pela mão direita, eu estava a esquerda, a garrafa foi jogada atrás de mim. Espirrou muito álcool, e todo ele foi numa fração de segundo alcançado pelo fogo. Caiu tudo em cima de mim. É, eu tomei um belo banho de álcool. Eu estava olhando para o isopor e de repente minha orelha direita, rosto, pescoço, ombro etc, queimou tanto que na extrema dor eu só levantei e saí correndo para o lado esquerdo. Fiquei em chamas 3 ou 4 segundos e tá bom, não quero bater esse récorde não. Os caras se jogaram em cima de mim, eu caí e eles apagaram com camiseta e batendo com a mão. Fazia tempo que eu não levava tanto tapa na orelha, mas foi bênção. Levantei e em seguida desmaiei. Chamaram o Resgate, fui para o CREI (pronto socorro), enfaixaram-me que nem uma múmia, e em função da gravidade, Santa Casa. No dia 13, pela manhã, foi difícil, a super-dolorida troca de curativos. É show: você vai para debaixo do chuveiro, para molhar as faixas que grudam na pele (carne viva), as auxiliares de enfermagem tiram todo o curativo e você vê bolhas que parecem a metade de uma laranja; aí com todo o cuidado elas estouram as bolhas e puxam, em seguida vem o melhor, elas utilizam uma buchinha embebida em clorexidina (anticético) e raspam sua pele. Nessa hora eu garanto, qualquer ateu clama pela misericórdia de Deus. Nunca senti tanta dor em toda a minha vida, não dá nem pra explicar, só sentindo. Eu clamei mesmo, clamei muito. Então, eu disse para as auxiliares: Eu vou me casar dia 22. Uma delas foi correndo chamar o médico (na ala de queimados, todos são cirurgiões plásticos). O doutor chegou e eu disse: Vou casar dia 22, tudo bem? Ele respondeu: Só se você casar aqui na Santa Casa!! EU: Mas, por quê doutor? ELE: você queimou 18% do corpo e é de 2º grau, você só sai daqui em no mínimo 4 semanas, isso porque não deve precisar fazer enxerto na orelha, mas ela está muito queimada! Antes de me enfaixarem denovo, quis olhar no espelho. Meu Deus, eu estava desfigurado. Perdi uma camada significativa de pele, especialmente na orelha, parte do rosto e pescoço. Eu me senti um bicho, fiquei estranho mesmo. Quando cheguei devolta no quarto o Espírito Santo me respondeu: Jesus sentiu mais dor do que você, e você continua pecando. Aí eu fiquei arrasado mesmo - essa foi na orelha esquerda. Eu me senti um 'nada', um 'verme', o pior dos piores. Tive bastante tempo para lembrar das minha ingratidões. Eu já vi o sobrenatural de Deus na minha vida, muitas bênçãos têm me alcançado; o Mar Vermelho se abre e no dia seguinte já estou murmurando por qualquer banalidade. Estar no leito e não ter a liberdade de levar comida a boca, de escovar os dentes, depender de uma auxiliar para coisas tão básicas, foi um tratamento na minha vida. Lembrei de algumas vezes que tive divergências com minha noiva por coisas tão pequenas; atitudes duras, que revelam falta de paciência e amor. No meu corredor havia pacientes graves, que estavam próximos, mas separados por uma porta de vidro. Ouvi falar de casos graves, como um rapaz de 28 anos que é paciente terminal; uma garota de 17 anos que brigou com o namorado e para chamar a atenção bebeu soda caustica - necrosou a garganta, traquéia e estômago, se alimentava com um tubo e morreu uma semana antes de eu receber alta; um outro, levou uma facada profunda, estava internado a alguns dias, teve uma crise de abstinência de droga, tentou fugir, foi pego e amarrado na cama - amanheceu morto. Na verdade, estarmos com saúde, em casa com a família ou com pessoas que amamos é uma bênção muito grande. Ouvimos falar, vemos na TV tantas pessoas que se machucam ou morrem, e admiramos como se fosse um filme. Nunca imaginamos que poderia acontecer conosco. Todos nós viemos de um lar, e vimos e ouvimos muitas coisas que não são bênção; é natural, pois todos somos imperfeitos. Eu só quero ser aperfeiçoado pelo Espírito Santo e sei que essa experiência fará de mim um melhor marido. Deus está no controle e tem o melhor para mim. Eu recebi uma Palavra: Tu sustentas a minha sorte (Salmo 16)- Na minha vida não há acaso ou azar. Bem, pra encerrar preciso contar algo. O dr. Flávio, chefe da cirurgia plástica da Santa Casa de Santos, declarou: Nunca vi um queimado cicatrizar tão rápido quanto esse rapaz. As autoridades se renderam ao poder de Deus. Minha pele se reconstruiu, a orelha direita foi restaurada completamente e recebi alta em apenas 16 dias! Dá até vontade de dizer glória a Deus. Eu sei que muita gente orou por mim, milhares se pessoas oraram muito. Creio que um anjo disse para o Senhor: DÁ ALTA PRA ESSE CARA PELO AMOR DE DEUS!!! Valeu galera, obrigado...Graça e paz.

São vicente, 10 de novembro/2005

Hedelcio
PS: Estou vegetariano, convites pra churrasco só
depois do Natal.