Em
21 de agosto de 2016 uma grande ressaca atingiu a cidade de Santos. A elevação
de 2,60 metros no nível da água é considerada a maior dos últimos 12 anos. Houve
um enorme dano material e muitas possibilidades de prevenção têm sido
ventiladas; uma delas sugere a instalação de uma barreira física em alto mar
na entrada da baía, o que eu considero inadequada.
“Barreiras
na entrada da Baía de Santos comprometerão as trocas de água e a consequente renovação
da água dentro do estuário, reduzindo a sua qualidade, a balneabilidade das
praias e fragilizando todo o ecossistema.” (Vanessa Amanda de Morais – Bacharel
em Ciências do Mar).
Um
exemplo de má engenharia ocorreu na vila de Epecuén na Argentina. A cidade foi
destruída 10 anos após a interferência do homem na natureza. Que sirva de
alerta.
“Na
década de 1920, uma aldeia estabeleceu-se ao longo da costa do Lago Epecuén, um
lago salgado, localizada à 600 quilômetros a sudoeste de Buenos Aires,
Argentina. Devido ao potencial turístico, em 1921, um pequeno complexo termal
foi inaugurado e a partir do ano seguinte, terrenos ao redor do lago, começaram
a serem vendidos e a Villa Lago Epecuén começou
a prosperar.
O
lugar oferecia aos seus visitantes águas termais, piscina de água doce, campos
de tênis, centro de recreação, tratamentos médicos, lojas e foi construído uma
usina para fornecer energia a população.
De
acordo com registros históricos, entre 1914 e 1919 as chuvas foram duas vezes
mais intensas que o normal, gerando um aumento no volume de água, deixando o
lago adequado para a sua inauguração em 1921, mas baixava constantemente e essa
instabilidade permaneceu por 50 anos.
O
lago Epecuén era grande, mas raso e em 1959 foi confirmado que a profundidade
média dos quase 10.000 hectares do lago era de um metro. Esse grande espelho
d’água recebia água de outros lagos e a água ia evaporando e os sais minerais
residuais se acumulando no fundo. Sendo o último na cadeia de lagos e lagoas e
por estar localizado na parte inferior de uma depressão, o nível de água era
sempre variável. Quando o nível estava muito baixo, a concentração de sal não
era suficientemente diluída, e uma crosta de vários centímetros de espessura
impedia o banho.
Mas
em 1975, foi concluído um projeto hidráulico que trazia água de outros lugares
e mantinha o nível da água do Lago Epecuén. Um muro de contenção de 3,5 metros
em forma de ferradura também foi construído ao redor do resort.
A
exploração comercial da área continuou até 1980, e uma vez que o lago recebia
vários pontos de captação de água, o processo de mineralização e salinidade
começou a mudar. Infelizmente, neste esforço contínuo que os seres humanos têm
de querer controlar a natureza, eles não perceberam o que estava para
acontecer. A quantidade de água da estação chuvosa, mais a água adicionada por
obra humana e um evento climático conhecido como El Nino, que fez chover mais
que o habitual nas colinas próximas do lago e isso por vários anos, fez Lago
Epecuén encher e a Vila Epecuén começar a afundar.
Em
10 de novembro de 1985, o enorme volume de água rompeu o muro de contenção e
inundou grande parte da cidade deixando-a sob quatro metros de água. A
inundação aumentava um centímetro por hora e em 15 dias, toda a cidade estava
embaixo d’água, fazendo as pessoas abandonarem a cidade as pressas, deixando móveis
e carros para trás. Já no ano de 1993, a inundação continuou a engolir a cidade
até ela ficar coberta por dez metros de água. Os residentes de Epecuén, fugiram
para a cidade vizinha de Carhué, que fica a 8 quilômetros e outros foram embora
da região, nem sequer olhando para trás. Quem
chega hoje a Epecuén pode ver os restos oxidados de carros e móveis, casas em
ruínas e eletrodoméstico destruídos. Escadas levam a lugar algum, e os
cemitérios, revirados, expõem tumbas outrora enterradas. É
uma paisagem estranha e apocalíptica, que representa um momento traumático para
a posteridade.” (Magnus Mundi)